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Revolta dos Malês



Hoje parece algo inusitado pensar em uma república islâmica no ocidente, ainda mais na América Latina que foi colonizada por portuguêses e espanhóis em sua maioria, que são nações católicas e catequizaram os povos de suas novas terras, mas isso foi quase possível no século XIX.

A Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador, Província da Bahia, na noite de 24 de janeiro de 1835, durante o Brasil Império, mais precisamente durante o Período Regencial (1831 a 1840), representou uma rápida rebelião organizada pelos escravos de origem islâmica (sobretudo das etnias hauçá e nagô), os quais buscavam principalmente a liberdade religiosa, contudo foi reprimida pelas tropas imperiais.

Contexto Histórico

Em meados do século XIX, muitas revoltas ocorreram no país (Cabanagem, Sabinada, Balaiada, Farroupilha, Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates), decorrente do descontentamento de grande parte da população, donde os escravos envolvidos buscavam o fim do trabalho forçado, das humilhações, das torturas, das violências físicas e psicológicas, das péssimas condições de vida, dos abusos sexuais, e, consequentemente, almejavam o fim da escravidão no país (concedida pela Lei Áurea, em 1889).

De tal modo, a insatisfação dos escravos se espalhou pela Bahia, tanto pelo sistema político e econômico (baseada na mão de obra escrava) que reinava no país, quanto pela liberdade religiosa, posto que que eram obrigados a participarem dos cultos católicos.

Sem espanto, a revolta dos malês, representou a mobilização de cerca de 1.500 escravos africanos, os quais lutavam pela libertação dos negros de origem islâmica, ou seja, os escravos muçulmanos. Deste modo, contrariados com a imposição da religião católica, os “malês” (língua ioruba “imale”, que significa "muçulmano") se uniram com o intuito de defender e manter o patrimônio religioso, tal qual suas crenças, cultos, costumes, etc.

Destarte, liderados por Pacífico Licutan, Manuel Calafate e Luis Sanim, a Revolta dos Malês ocorreu no centro de Salvador, iniciada pelo ataque dos malês ao Exército, que pretendiam libertar os escravos dos engenhos e tomar o poder.

No entanto, durante a noite de 24 para 25 de janeiro, os malês, que foram delatados, participaram de uma emboscada, preparada pela polícia, o qual deixou muitos mortos, feridos e presos. Cerca de 200 escravos foram presos e julgados, e o resultado foi: pena de morte para os principais líderes do movimento; fuzilamentos, açoites e trabalhos forçados para o resto.

Durante a revolta, os escravos devotos à religião islâmica, ocuparam as ruas com roupas islâmicas e amuletos contendo passagens do Alcorão, os quais acreditavam que estavam protegidos contra os ataques dos adversários. Um dos fatores determinantes para o fracasso da revolta foram as armas usadas pelos escravos, tal qual espadas, lanças, facas, porretes, dentre outros objetos cortantes, enquanto a polícia estava munida de armas de fogo.

Vale destacar que os Malês, homens guerreiros, ousados e instruídos, tinham como principais objetivos libertar os escravos de origem islâmica, exterminar a religião católica e implantar uma república islâmica, de forma que tentaram tomar o poder, porém foram esmagados pelas forças do império.

Não obstante, eles se organizavam para a realização de cultos à Alá, leituras do Alcorão, ensino da língua árabe, tudo sempre muito escondido, uma vez que eram reprimidos e obrigados a aceitar o Deus Católico. Ademais, muitos deles sabiam ler e escrever, qualidade rara naquele momento, em que somente os brancos tinham acesso ao conhecimento.

Embora tenha sido reprimida rapidamente, após a Revolta dos Malês o receio do Império e dos fazendeiros donos dos escravos, aumentou consideravelmente, sendo que algumas medidas foram tomadas, desde a proibição de praticar seus cultos religiosos que não sejam católicos, bem como andar nas ruas durante a noite.

Curiosidades

A data em que ocorreu o Levante dos Malês, foi escolhida pelos líderes, de forma que representava o período mais importante para os muçulmanos denominado “Ramadã”, em que ocorrem muitas preces e jejuns. Assim, a revolta aconteceu exatamente dia 25 de janeiro, no final do mês de jejum.

Mala Abubaker, é o escravo que escreveu o plano de ataque da Revolta dos Malês.

Durante a Revolta dos Malês, somente na cidade de Salvador, existiam aproximadamente 27.500 escravos, ou seja, cerca de 42% da população.

No levante dos Malês, alguns escravos utilizaram técnicas de luta da capoeira.

Fonte: Toda Materia

Referências bibliográficas:

Da Costa, Sérgio Corrêa (2001). Brasil, segredo de Estado. Rio de Janeiro: Record

Fry, Peter (junho de 1996). «Por que o Brasil é diferente?». RESENHAS. São Paulo: ANPOCS. Rev. bras. Ci. Soc. 11(31). Consultado em 23 de novembro de 2017

FREITAS, Décio (1985). A Revolução dos Malês. Porto Alegre: Movimento. pp. 106p


Comentários

  1. Este texto comete equívocos, a intenção era implantar os islã e transformar em excravos todos os outros brancos e negros. Vale lembrar que para os muçulmanos o desprezo pelos politeistas é muito maior do que pelos cristãos o povo do livro. Aliás o Ramadã acontece nos meses de Junho, julho até agosto depende do calendário lunar, assim como a páscoa e o carnaval.

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  2. Bom e interesante sua visao e pespequitiva

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